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Relação com mercado, Banco Central e salário mínimo: Os principais pontos da entrevista de Lula à CNN

Relação com mercado, Banco Central e salário mínimo: Os principais pontos da entrevista de Lula à CNN

Temas econômicos pautaram parte da entrevista de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à CNN Brasil, na sexta-feira (17). Entre outros pontos, o Presidente da República respondeu questões envolvendo os ruídos na relação com o mercado e com o Banco Central, provocados por declarações recentes sobre a taxa de juros e as diretrizes da autoridade monetária sob o comando de Roberto Campos Neto.

Sobre o cenário político, o atual presidente afirmou que é preciso “recompor a civilidade no país” e não vê problemas de uma possível liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – a quem voltou a responsabilizar sobre os atos golpistas de 8 de janeiro – junto à oposição, desde que seja feito um “debate verdadeiro, e não um debate mentiroso, para que a sociedade possa melhor escolher”.

Relação com o mercado

O presidente Lula disse entender que os investidores “precisam ganhar dinheiro”, mas declarou que é necessário entender que o Brasil é “feito de povo” e que precisa ser governado “para todos os lados”, e apontou a especulação financeira como responsável por eventuais ruídos em seus discursos sobre o mercado.

“Eu sei da existência do mercado. Eu sei o que o mercado faz para ganhar dinheiro. Mas eu estou governando para o povo brasileiro. Eu estou governando para tentar recuperar o bem-estar social que o povo brasileiro alcançou no tempo em que eu fui presidente”, afirmou.

O presidente criticou as privatizações e disse que o país deveria priorizar investimentos, no caso da Petrobras, que permitam aumentar a capacidade de exploração e produção de derivados do petróleo, além do refino.

“Você vendeu a BR [Distribuidora] para quê? O Brasil tinha uma Petrobras que era autossuficiente em petróleo. De repente, você que pensava que era exportador de derivados, está exportando óleo cru e comprando 25% da gasolina e 35% do óleo diesel. Para quê isso?”, indagou.

O presidente também afirmou que o mercado, na visão dele, não ficou “irritado” com a expansão fiscal feita pelo governo Bolsonaro no ano passado, às vésperas da eleição.

“Ele [Bolsonaro] não entendia nada e o Guedes fazia o que queria”, sublinhou.

Banco Central e Campos Neto

Após as falas recentes de Campos Neto à imprensa, em movimentos que podem ser considerados acenos favoráveis ao governo após as críticas de Lula, o presidente disse não ter interesse em brigar com o comandante do BC.

O Chefe do Executivo, contudo, foi taxativo ao dizer que “não tem a mesma cabeça política” de Campos Neto, já que o atual presidente da autarquia foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, com aval do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

“Aumentar o juro é importante quando você tem uma inflação de demanda, como sociedade consumindo demais, você aumenta o juros para diminuir o consumo. Hoje temos uma crise de crédito, somos um país capitalista sem crédito. Me pergunto qual empresário vai fazer investimento com empréstimo a 3,75% de juros”, questionou.

Lula disse que, em seus outros mandatos, levou a inflação à meta, criou empregos, acumulou reservas internacionais e pagou a dívida externa do País. “Você aumentava meio por cento de juro e reduzia meio por cento a TJLP (taxa de juros de longo prazo) do BNDES para facilitar para aqueles que fazia investimento para o Brasil crescer”, justificou.

“A única coisa que eu quero é que ele cumpra aquilo que está na lei que aprovou a independência do Banco Central. Ele tem que cuidar da inflação, ele tem que cuidar do crescimento, tem que cuidar do emprego”, disse Lula.

O presidente não descarta a possibilidade de rever a autonomia do Banco Central ao término do mandato de Campos Neto, em 2024, “se não melhorar [a economia], nós temos que mudar” e indicou que a interlocução com a autoridade monetária segue como responsabilidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Se for necessário o presidente da República conversar com o presidente do Banco Central, sobre alguma coisa que é do interesse do Brasil, eu também não tenho nenhum problema de conversar. Mas se eu não posso conversar com ele sobre a taxa de juros, se eu não posso influir para reduzir a taxa de juros, se eu não posso conversar com ele sobre emprego, então o que eu vou conversar?”, indagou Lula.

Salário Mínimo e Imposto de Renda

Na entrevista, Lula confirmou que o salário mínimo será reajustado novamente ainda este ano, dos atuais R$ 1.302 para R$ 1.320, a partir de 1º de maio (Dia do Trabalho).

O governo também vai retomar, a partir deste ano, a política de reajustes do salário mínimo pela inflação mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que vigorou nos governos petistas.

“Já combinamos com movimentos sindicais, com Ministério do Trabalho, com o ministro Haddad [da Fazenda] que vamos, em maio, reajustar para R$ 1.320 o valor do salário mínimo e estabelecer uma nova regra para o piso, levando em conta, além da reposição da inflação, o crescimento do PIB”, afirmou Lula. “Porque é a forma mais justa de distribuir o crescimento da economia”.

Lula confirmou também à CNN que a nova faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) passará dos atuais R$ 1.903,98 para R$ 2.640 (equivalente a dois salários mínimos, considerando o novo piso), em 2024.

A intenção de Lula é começar a isentar quem ganha até R$ 2.640 e depois aumentar até a faixa de R$ 5 mil, promessa de campanha não cumprida por Jair Bolsonaro e reiterada por Lula durante as eleições em 2022. “Tem que chegar porque foi compromisso meu e vou fazer”, disse.

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