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Profissional trans não-binárie enfrenta resistência do mercado de trabalho, mas é destaque da Unicamp com bolsa na França após 69 processos seletivos

Profissional trans não-binárie enfrenta resistência do mercado de trabalho, mas é destaque da Unicamp com bolsa na França após 69 processos seletivos

Rafa Mores, que se identifica como trans não binária, sabe bem da resistência que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta no mercado de trabalho.

Formado em Engenharia da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com dupla titulação na França, Rafa passou por 69 processos seletivos até conseguir uma vaga de trainee.

Rafa fala três idiomas e recebeu prêmios da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e do Instituto de Engenharia de Computação da Unicamp por seu desempenho na turma de formandos de 2014. Além disso, eles receberam uma bolsa de mérito do Ministério das Relações Exteriores da França.

“Disseram que eu era informal demais para o mercado financeiro formal. Falta representatividade, faltam órgãos diversos nesses espaços.”

Uma pesquisa publicada em junho de 2022 pela consultoria Mais Diversidade revelou que um em cada quatro transexuais está desempregado. Isso representa a maior taxa de desemprego entre as comunidades dentro da sigla LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersex, assexuais e mais).

Neste 17 de maio, Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, vale ressaltar que 90% da população trans no Brasil pratica o trabalho sexual por falta de outras oportunidades, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

Diversidade e inclusão são palavras da moda nos discursos corporativos, mas a violência cotidiana mostra que ainda existem inúmeras barreiras para a comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho, principalmente para os transgêneros. Em parceria com a B3, Bolsa de Valores de São Paulo, o Tamo Juntes lançará em breve o primeiro programa voltado para aprendizes transexuais no Brasil.

“Temos que preparar as pessoas, e o mercado de trabalho também precisa estar preparado. Treinamos mentores que podem não necessariamente saber como liderar pessoas trans”. Victor Lambertucci é CEO da Profissas e criador da comunidade LGBT+ Career

Victor Lambertucci, especialista em diversidade e inclusão e CEO da Profissas Diversity School, também defende a “alfabetização” e a conscientização daqueles que não estão acostumados com a diversidade.

Ele acredita que o machismo estrutural e a predominância de homens heterossexuais em cargos de liderança estão na raiz da dificuldade enfrentada pelos indivíduos LGBTQIA+ na ascensão profissional.

“Existe um status quo concebido por um grupo minoritário, os homens cisgêneros heterossexuais brancos. Quando não temos experiências e desafios semelhantes ocupando cargos de decisão, fica muito difícil ter portas abertas. A maioria da população luta para entender por que eles não podem se conectar.”

Preconceito e violência Única repórter transgênero na rede de televisão, Lisa Gomes foi vítima de agressão verbal no ambiente de trabalho. Enquanto se preparava para entrevistar o cantor Bruno, ele perguntou sobre sua genitália. Mais tarde, a artista admitiu ter cometido um ato de transfobia e pediu desculpas.

Valter Bastos, ator e gay cisgênero, já viveu diversos episódios de violência física e verbal em seus 23 anos de trabalho como drag queen e locutor. Ele foi contratado para se apresentar em um casamento pela própria noiva, mas foi impedido de fazê-lo.

“Os padrinhos me ameaçaram e disseram que iriam me bater até eu virar homem.” O Brasil ainda detém o maior número de mortes violentas entre a população LGBTQIA+ em todo o mundo. Segundo o Observatório de Mortes e Violências contra Pessoas LGBT+ no país, foram 273 casos notificados em 2022.

O dia 17 de maio, Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, marca a data em que, ainda em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de classificar a homossexualidade como um transtorno mental.

Ofender ou ameaçar alguém com base em sua orientação sexual ou identidade de gênero pode constituir crime de homofobia ou transfobia, que passou a ser equiparado a racismo. Dirigir-se a uma pessoa trans por seu nome escolhido e identidade de gênero não é apenas uma questão de cortesia, mas uma obrigação em ambientes educacionais e de trabalho.

Uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, divulgada nesta terça-feira (16), condenou uma empresa por danos morais por tratar um funcionário transexual pelo nome de registro e não pelo nome social. A empresa afirmou ter um programa de diversidade e inclusão.

Ações Afirmativas O aumento da presença de analistas de diversidade e a criação de comitês sobre o tema dentro das empresas mostram um esforço, no mínimo, de adequação às demandas do público. Segundo Victor, a conscientização nos ambientes de trabalho tornou-se uma questão de inteligência de negócios.

“As empresas perceberam que estão perdendo espaço e mercado quando seu público é diversificado e não entendem suas necessidades de relacionamento e consumo.”

Diferentemente da atribuição obrigatória de vagas para negros, pessoas de cor ou pessoas com deficiência, as políticas de ação afirmativa são consideradas uma abertura importante para a comunidade LGBTQIA+. Embora não haja obrigatoriedade legal, as seleções de emprego adotam cada vez mais essa prática, destaca Tábata Silva, gerente do portal Empregos.com.br.

“Todos esses são grupos sub-representados, marginalizados ou excluídos. A ação afirmativa aborda décadas ou séculos de obstáculos”, enfatiza Victor.